terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sem o "eu te amo", mas com amor.

Nunca fui uma criança problemática (um pouco talvez), não dava trabalho (só de vez em quando), era inteligente (não era burra), uma criança normal, diferente das outras. 

A competição começa na pré-escola, seja pelo lanche mais gostoso, caderno mais bonito, canetas coloridas, tênis com pisca-pisca, e óbvio a melhor mãe do mundo. Meus lanches foram à base de bisnaguinha, yakult, fruta e de vez em quando um chocolatezinho (friso o "inho", pois era sempre pequeno mesmo, batom branco ou tortuguita), enquanto os demais levavam salgadinho, refrigerante, pirulitos, etc. todos os dias, (será que hoje são obesos?), minha mãe não era uma bruxa de verdade, mas as vezes...
Adorava o natal, adorava o ano novo, adorava voltar às aulas,  pois sabia que teríamos que ir na papelaria... Como adorava escolher material escolar, entre lista gigante, itens não levados, cara emburrada (a minha), e comparações, trazia para casa meu... 
"- Mãe eu quero este estojo de canetinha com 87 cores, pois fulana tem um igual." ...
"- Moça, eu quero este aqui com 24 cores, por favor." Não sei por qual motivo mas minha mãe sempre reduzia na metade o que eu pedia...
"-Mãaaaeeee, eu preciso deste caderno da Barbie com glitter e que emite som quando aperta o botão.." ...
"- Moça, quero este aqui, e o papel quadriculado para encapar tal..." (era de acordo com as séries: verde, vermelho, azul ou amarelo). Mais uma vez, NADA, enquanto reclamava comigo mesmo em silêncio, ela dizia: "-Filha, na lista está pedindo todos os cadernos encapados, eu não vou passar por cima do que a diretora pediu..." 
 Depois de todas as escolhas básicas, vinha a minha parte: Estojo, canetas, lápis, adesivos e afins... Ufa! Um momento de felicidade e poder de escolha, só meu!
Minha infância foi baseada no uso do básico all star... (Antes disso usava aqueles tênis das princesas com velcro e luzinhas)
Melhor mãe do mundo... (?) Eita, a minha era chata, não deixava eu levar doces todo dia, nem assistir novela, nem ficava dando mil beijos na frente da escola e falando "mamãe te ama, mamãe te amaaaaaaa.." antes de entrar para aula, (um beijo dentro do carro bastava), não deixava eu ter um namoradinho, não colocava apelidos (vergonhosos) em mim, exemplo: filhotinha, bebezinha, bananinha ... nem escrevia todo dia em minha agenda perguntando para a professora (vulgo "tia"), como foi meu desempenho durante a aula, não me elogiava nas festas de final de ano "-Minha filha é aquela ali ô, a mais linda, olha pra foto queridaaaaa!". 
Minha mãe sempre colocava minha calça na altura do umbigo e a camiseta por dentro (Bastava eu passar pelo portão que tirava a camiseta de dentro e colocava a calça na altura ideal), passava creme e puxava muito meu cabelo para fazer o mais alto rabo de cavalo (deve ter vindo daí meus olhos meio puxados), passava babinha (cuspe mesmo) para limpar meu nariz quando não tinha nenhum lencinho por perto (tenho nojo absurdo disso!), ela também não ficava esperando o ônibus virar a esquina dando tchau sem parar quando havia excursão. Minha mãe era... normal. 
Em alguns momentos existia até o pensamento de "não amor", afinal, ela não dizia 24 horas por dia "eu te amo". 

Nunca houve frustração eterna de minha parte, e nem nada, sempre fui e sou do tipo: desapegada (de fato), mas com o tempo, veio então, o entendimento e consequentemente a gratidão.
Ela não deixava eu levar determinados lanches, pois todo dia eu contava a velha e comum história do "dá um pedaço do seu", e consequentemente a briga que vinha depois disso... Portanto, eu não precisava levar os lanches mais incríveis, pois em casa poderia comer tudo e sozinha.
Eu não precisava de 87 cores de canetinhas, pois só usava a azul (minha cor preferida)... 
Eu não precisava dos cadernos falantes e cheios de berloques, pois de duas uma: Ou eu perdia, ou eu perdia em algum momento do ano letivo...
Eu não precisava de tênis com pisca-pisca, pois eu gostava mesmo era de escrever meu nome escondido nas laterais... 
Eu não precisava do infinito tchau na excursão, pois sabia que quando o ônibus retornasse, ela estaria lá (do outro lado da rua) me esperando. 
Os não-elogios, os não-eu te amo, os não-beijos melados, os não-bilhetinhos, resultaram numa pessoa que vê o amor de forma diferente e real, não baseada na prova provada de fato, e sim na atitude e na essência do sentimento. 
Hoje, de uma forma superficial, eu entendo (um pouco) de tudo isso. 





 

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