A caminhada.

Tudo estava perfeitamente bem, a caminhada estava sendo completada, quando possuímos folego corríamos, quando estávamos fadigados caminhávamos lentamente.

Sol, chuva, frio, calor, independente de qualquer coisa andávamos.

A caminhada por boa parte do tempo era propagada de silêncio pela sua parte, apenas eu falava.

Suas palavras eram pequenas, mas sabia que havia o amor.

Houve momentos de puro monólogo.

Mas mesmo assim sabia que havia o amor.

A todo o momento eu insistia em saber se havia algo a dizer, você sempre balançava a cabeça negativamente.

Mas mesmo assim... ainda acreditava no seu amor.

Teve momentos em que quis desistir e voltar para casa, pois estava cansada, mas você sempre esteve lá... Segurando a minha mão suada, e até mesmo me pegando no colo. A sua presença me fazia continuar, mesmo que por alguns instantes contrariada.

Você sempre manteve o mesmo foco, confiante, certo e decidido do que realmente queria, e por isso me incentivava a todo o momento.

Durante toda essa longa caminhada você nunca hesitou desistir. Mas em um dia no qual eu estava totalmente saturada, e a tempestade estava tomando conta de todo o nosso caminho, você simplesmente parou.

O seu parar, fez com que eu sentisse o pior medo de todos, e pensar que eu realmente não teria mais companhia, e por não ter mais você, não haveria mais motivo algum de seguir tal caminho.

Foram longos dias dos quais, você ficou simplesmente sentado. Nem para frente, nem para trás.

De seus lábios, não saiam sequer um comentário.

E por cansar de falar sozinha, também me calei.

O tempo de silêncio cessou com a minha atitude, e então com dificuldade levantamos, respiramos, conversamos... e discutimos se deveríamos continuar caminhando ou não.

Decidimos que sim.

Mas que tudo seria diferente, decisivos da mudança, da precisão dos passos, e que estávamos certos de que não haveria mais monologo, e sim dialogo.

Começamos novamente, tipica caminhada de atleta enferrujado... Passos lentos, regrados, e com certa falta de confiança no andar.

Logo voltamos ao pique.

E de fato a caminhada estava bem melhor do que há tempos atras. Estava certa de que aquela brusca parada tivesse sido necessário para caminharmos diferente.

As mudanças foram praticamente instantâneas  no lugar de pequenos trotes, haviam passos, no lugar de monologo havia dialogo.

Eu como de costume continuava falando mais que o normal, mas estava totalmente feliz por saber que as frases completas saíam de seus lábios.

Surpreendia-me por ver que você estava dominando a caminhada.

Entristecia-me ao notar que você desanimava, não por aquela situação em si, e sim por coisas que estavam acontecendo.

Antes eu poderia não ligar, mas atualmente ligo. E fazia de tudo para tentar mudar tal situação.

Esforçava-me ao máximo apenas para te ver feliz, nem que fosse superficialmente, para aí então seguirmos.

Sol, chuva, calor, frio, estávamos mais certos do que nunca, e nada estava nos abalando.

Caminhávamos felizes com as nossas pegadas que ali atrás estavam.

Marcadas no chão, e eternizadas na memória.

E aí estava o nosso caminho, sendo traçado do nosso jeito, da nossa maneira.

Apenas nosso.

Num dia de sol, posterior à uma tempestade... Um dia comum com passos constantes.

Até que então, você falou.

Diminui a velocidade dos passos, minha mão estava suando, minhas pernas moles e bambas, respiração ofegante, mas ainda assim prossegui.

Afinal ele não falava, então tive que ouvir.

Ouvi tudo... O dia ainda estava ensolarado, mas naquele momento, quando a última frase saiu dos seus lábios...

A maior tempestade de todas começou.

Fiquei e ainda estou imóvel.

Em uma sensação que não há como explicar ao certo.

Chegamos tão tão longe, para agora estacionar. E num ato ficar sem reação e nem como agir.