O friozinho

Minha mãe me encaminhou este texto, e resolvi compartilhar.

Por ANA PAULA PADRÃO

O friozinho me lembra fogueira. Que me lembra festa junina. Que me lembra guloseimas com milho. Que me lembra pamonha! Hummmm, pamonha doce era minha comida preferida na infância. Era meu programa de domingo. No fim da tarde mamãe me vestia com aquelas roupas enfeitadinhas de menina, embarcávamos no fusca azul dela e eu sabia de cor o caminho do paraíso. Uma casinha de lanches simpática e simplesinha que servia produtos de milho. Sempre tinha pamonha quentinha, enrolada na palha e amarrada com um barbante. Um banquete…

Mamãe pedia pamonha salgada, eu preferia a doce. De lá pra cá meu paladar mudou, mas na minha lembrança o gosto da pamonha ainda é tão vivo e delicioso quanto naquelas tardes de domingo. Talvez nem fosse pela comida. Provavelmente o que eu mais gostava era o passeio com a mãe, a cumplicidade de dividirmos o mesmo prato, a sensação de pertencimento. Eu gosto do que ela gosta. Ela é mineira e gosta de comida mineira e eu aprendi a gostar também. Ela gosta de mim. Nós passeamos juntas.

Na Brasília daquela época não havia muitas festas juninas e quando havia eram pobres de dar dó. Umas barraquinhas de madeiras velhas, petiscos frios e gordurosos. Nada como as pamonhas do domingo com a mãe. Mas havia as bandeirolas. Foi ela também quem me ensinou a fazê-las. Jornais e revistas velhas com um V cortado em baixo. Penduradas num barbante. Passava dias naquela função, dedos cheios de cola seca.

Eu me sentia importante. Ajudava a mãe a enfeitar a casa para uma festa de verdade. A festa mesmo nunca vinha, mas era o que deveríamos fazer por que todo mundo fazia. Entrar no clima junino e preparar a casa para a época. Eu estava aprendendo sobre rituais. E sobre como eles ajudam a compor quem seremos no futuro. No lanche dos domingos e nas bandeirinhas penduradas.

Na época em que o friozinho chegava - eu nem sabia - mas estava aquecida. Embrulhada de amor e de referências